Epitáfio em memória dos cedros de Villabalzana – Christian News
24 de dezembro de 2023O único consolo: ainda que pela última vez, o remanescente da floresta alpina, da taiga, que tornou Villabalzana única, pôde desfrutar, antes de ser massacrado impiedosamente, a neve de poucos dias atrás que embranqueceu os topos do Colinas Berici.
De resto, nada a dizer, nada a acrescentar ao que já foi dito noutras ocasiões (“Mas será que os venezianos odeiam árvores?”).
Só a amargura, a sensação de vazio (não em sentido metafórico) que irrompe, espalha-se observando a desolação no prado perto da igreja de Villabalzana. Cerca de dez árvores de grande porte, também mencionadas como notáveis em alguns guias, nobres e majestosos cedros, derrubadas durante a noite por motivos que, na minha opinião, são algo questionáveis. Ou seja, com a intensificação dos “eventos extremos” (tempestades, ventos fortes, etc.) eles poderiam ter sido erradicados. Prejudicial… mas isso é um tanto questionável dada a distância… um restaurante. No máximo alguns carros estacionados, eu acho.
Em qualquer caso, na minha humilde opinião e com base na experiência pessoal, uma intervenção de poda suave teria sido suficiente. Mas não, tudo fora. Com o desaparecimento daquele que era sem sombra de dúvida o elemento mais belo, esteticamente falando e mais naturalista do local.
Uma primeira hipótese era que a questão estivesse de alguma forma ligada (talvez para a construção de um parque de estacionamento) à utilização prevista das pedreiras, abandonadas há anos e já em fase avançada de renaturalização (ver presença de morcegos, saxifragens bericas…). de uma área ex-militar. Em poucas décadas tornou-se um tesouro de biodiversidade, pelo menos em comparação com as zonas envolventes, precisamente por estar “abandonado” e pouco frequentado. Agora eles gostariam de “melhorá-lo” no sentido turístico, não está claro como, aparentemente com luzes piscantes e outras comodidades. Talvez à semelhança do que aconteceu com o lago subjacente de Fimon, “melhorado” para uso e consumo dos pescadores, eliminando efectivamente o vasto matagal de canavial que fornecia abrigo, entre outros, ao garça-pequena e à toutinegra. E transformar o espelho do lago primordial na versão local do Idroscalo.
Mas, voltando a Villabalzana e segundo o que declararam os “especialistas” apanhados em flagrante (foram inúteis as nossas queixas, recriminações, protestos, apelos ao sentido de humanidade, ditos), a hipótese seria plantar oliveira árvores ali. Nada menos! Veja a originalidade!
Agora quem conhece as Colinas Berici sabe bem que aqui já podemos falar de monocultura da azeitona (ou no máximo bicultura: o prosecco é forte). Em detrimento não só das árvores de grande porte – cada vez menos – mas da floresta em geral. Graças também ao financiamento de que beneficiam estas duas alegadas “excelências” de Berico, “bombeadas” em quantidades industriais…
Não faltaram precedentes na área. Listagem: os quatro carvalhos centenários ao longo da estrada abaixo do morro Montruglio (dezembro de 2016, os restantes foram salvos apenas devido à intervenção de emergência de um caminhante que passava), as tílias da Ponte di Barbarano, “o moraro de Col de ruga”, o cedro gigante de Longare (2022), as duas amoreiras e o plátano (gigante prova deontológica da existência de Deus) no meio de um campo antes da estrada para Campiglia. E também as dezenas de plátanos, olmos, bordos, amoras e alfarrobeiras de tamanho considerável que sombreavam a antiga ferrovia Treviso-Ostiglia. Arrancada sem critério durante obras na ciclovia. Uma contradição, na minha opinião.
Mas a fúria ecocida parece ter sido desencadeada com particular veemência perto das igrejas. Exorcismo antropocêntrico preventivo para a “paganidade” intrínseca no respeito (adoração?) pelas árvores? Veja Villaganzerla, Castegnero e agora Villabalzana.
E daí? Nada, agora acho inútil até me arrepender. A deriva é esta. Maior exacerbação da colonização, da redução das colinas (como acontece com grande parte das montanhas venezianas) a um parque infantil, uma saída para o “tempo livre” (substancialmente uma fonte de lucro disfarçada) e uma área residencial para pessoas ricas em fuga das cidades (mas trazendo consigo todo o lixo, material e espiritual, do consumismo).
Apenas um aparente contrapeso à outra tendência, aquela que cimenta, impermeabiliza e degrada a planície abaixo até onde a vista alcança, à força de armazéns, auto-estradas e bases militares.
Esperando pelo quê? Talvez de uma geração de ambientalistas verdadeiros e conscientes, capazes de pôr um limite à transformação do planeta numa concha vazia e murcha, num aterro sem limites onde podemos contemplar impotentes e desconsolados o avanço do Nada.
E concluo evangelicamente: “Perdoe-os, eles não sabem o que fazem”.
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