Estupro em Palermo, analfabetismo emocional e mensagens erradas da sociedade – Christian News

Estupro em Palermo, analfabetismo emocional e mensagens erradas da sociedade – Christian News

1 de setembro de 2023 0 Por Editor

O tema do dia. O estupro em Palermo, cometido por sete meninos contra uma jovem de dezenove anos. Ao ouvir as reacções dos arguidos, duas coisas em particular me impressionaram. A primeira, quase todos esses caras disseram: “Ela parecia consentir”. A segunda, o julgamento de um comentarista: “Esses caras mostram que estão tendo uma relação pornográfica com a mulher”.

Chegamos, então, ao primeiro problema: “Ela parecia consentir”. Podemos definir esta atitude como uma alteração do sentido da realidade. Estudos recentes mostram como a pornografia tem o poder de modificar a cognição social, produzindo uma “fratura ontológica”, ou seja, uma lacuna inconsciente entre a imaginação e a realidade. Ou seja, cria-se uma tipologia de mulher que não existe na realidade. “Na pornografia masculina”, escreve Francesco Alberoni, “as mulheres são imaginadas como seres loucos por sexo, arrastados por um impulso irresistível. Desta forma, o homem imagina as mulheres como tendo os mesmos impulsos que os homens, atribui-lhes os mesmos desejos e fantasias. Imagine ainda que os dois desejos sempre se encontram. Quaisquer duas pessoas, a qualquer momento, desejam a mesma coisa uma da outra. Não há oferta e procura, não há troca. Todo mundo dá tudo e recebe tudo”.

E chegamos ao segundo problema. Em que consiste a relação pornográfica com a mulher? É quando a mulher, de sujeito, se transforma em objeto. A pornografia é a profunda “degeneração” do sentido da sexualidade que, de oportunidade de encontro, de fusão, de doação, de ternura, transforma o outro em algo a ser dominado e destruído. Alguém disse que a pornografia é a máscara que tenta esconder o desespero de quem se sente incapaz de conhecer o outro como pessoa.

Para se ter uma ideia dessa atitude patológica, o psicoterapeuta Francesco Bricolo dá um exemplo: “O homem adulto sabe perfeitamente que o seio não existe, mas que existe uma mulher que tem seios. Ele sabe disso porque, para conquistá-los, fez um esforço para se relacionar com uma garota. Todos nos lembramos da emoção dos primeiros encontros. Seu coração acelerado diz que você gosta daquela garota. O constrangimento, o suor, a boca seca, a depressão…. Todas estas experiências quase não existem hoje porque os jovens se apaixonam pela primeira vez depois de já consumirem extensivamente a pornografia, onde viram cenas que obscureceram para sempre a beleza e a bondade das coisas. A poesia do enamoramento e dos primeiros encontros. Também podemos dizer a essas crianças que são atrizes que desempenham um papel, que são remuneradas, que são escolhidas com base no seu corpo e na sua atuação na tela. Podemos dizer isso e muito mais, mas é de pouca utilidade. Se ele tem 18 anos, um menino já tem 5 anos de pornografia usada diariamente com as piores perversões atrás dele.”

Existe, de facto, uma fase do amor que coincide com a ‘idealização’ do ser amado. O chamado ‘amor verde’. Somente o amante pode compreender a identidade profunda do outro. É uma operação que tem muita invenção, de criação. Há algo de divino nesta revelação, que cada um faz ao outro, do seu mistério oculto, da sua imagem imanente. Nem o pai ou a mãe, nem o amigo mais próximo possuem tal poder. Este é um momento de entusiasmo, convocado por alguém “status nascente”, que faz vibrar a alma, antes mesmo do corpo. Isso faz com que seja forte a vontade de dialogar, de contar histórias, de explorar o universo interno do outro. É necessário, porém, não mortificar esta dinâmica, não esmagá-la com desejos precipitados de linguagens físicas, baseadas em estereótipos da moda. Para esta fase, de facto, aplica-se a regra: ‘insista na alegria’, que é vibração do espírito, e você também terá prazer, que é vibração do corpo. Um relacionamento que foca apenas no sexo, no longo prazo, gera vazio interno, náusea, neurose e muitas vezes inibição por excesso de investimento. Muitas pessoas “impotentes” são assim porque estão fixadas no instrumento, como um motorista que olha para o volante em vez de olhar para a estrada.

E, acima de tudo, tenha cuidado para não se submeter à escola de uma certa cultura mediática que mistura sexo e violência, criando emoções subtilmente neuróticas que são difíceis de gerir pelas nossas mentes. Na verdade, se o sexo é simbiose, ternura, como pode ser abuso, uma demonstração incompreendida de força viril? O próprio Freud destacou que dentro do sentimento de amor não existe apenas a pulsão fusional (libido), mas também o destrutivo (destruição). Uma mente harmoniosa, numa relação amorosa, consegue marginalizar os impulsos agressivos. Um indivíduo neurótico, por outro lado, está por trás disso.

Observou-se que a cultura moderna, em vez de nos “libertar”, no que diz respeito ao sexo, nos “obcecou”. Passamos do tabu ao fetiche, esquecendo que a sexualidade não é o objetivo, mas o meio, não é o amor, mas a linguagem para comunicá-lo. Fora do amor pela pessoa, a sexualidade corre o risco de se tornar uma variável maluca. Há até quem, como Jacques Lacan, defenda que não existem relações sexuais. Precisamente porque se baseia no prazer. E o prazer é sempre individual. Todo mundo sente isso de maneira diferente. Então, o que deveria nos unir acaba nos dividindo. Existe, no entanto, apenas a capacidade de identificação com os outros, através de sentimentos de profunda empatia. Concluindo, só o amor pode nos unir.

Luciano Verdone

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