TUAREG, DA PANELA PARA A GRELHA? – Notícias Cristãs
6 de setembro de 2023Entre ataques jihadistas, golpes de estado e intervenções de Wagner, tempos sombrios se aproximam para os tuaregues. Especialmente no Mali.
Eu admito. Interpretar o que está a acontecer no Níger, no Mali e no Burkina Faso (entre golpes, mini-golpes e rebeliões diversamente entendidas) como a nova descolonização do século XXI pode parecer simplista, “demasiado fácil”. Em particular quando se fala de Wagner, não é certamente fácil atribuir-lhe funções emancipatórias para as antigas colónias africanas ainda de alguma forma “sob protecção” (em particular pela França). Tal como não é fácil decifrar a verdadeira extensão da presença global russa no continente.
Para complicar ainda mais o quadro, a permanência prejudicial de grupos jihadistas cada vez mais agressivos e das potenciais vítimas designadas do momento (o habitual “jarro de barro”): os tuaregues.
Em Julho, o cenário parecia ter-se de alguma forma tragicamente simplificado. Enquanto o Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos (Gsim/Jnim), um ramo da Al Qaeda no Magreb Islâmico (AQIM), assumiu a responsabilidade pelo abate de um helicóptero Wagner no Mali (onde a junta golpista de Assimi Goita está no poder desde Maio 2021 com o apoio de mil mercenários da organização de Prigozhin empregados contra as milícias jihadistas), os tuaregues, signatários dos acordos de reconciliação de Argel (2015) com o governo de Bamako, descobriram que se encontravam praticamente abandonados pela missão da ONU (Minusma) prestes a retirar-se (conforme solicitado pelo governo do Mali).
A ponto de ter que recorrer à Rússia. Ou pelo menos foi o que pareceu depois da reunião entre a Coordenação dos Movimentos Azawad (CMA) e o embaixador russo Igor Gromyko que deveria garantir o apoio de Moscovo contra os ataques jihadistas. Obviamente a situação complicou-se depois da “crise interna”, a fracassada rebelião de Junho do chefe do Wagner contra o presidente russo.
O que precipitou a situação – segundo declarações de um porta-voz da CMA (Coordenação do Movimento Azawad) – foi o ataque conjunto do exército do Mali e de Wagner contra os tuaregues em Ber (após a evacuação das forças de paz) na região de Timbuktu. .
Haveria informações contraditórias sobre isso. Enquanto o exército do Mali afirmava ter “tomado posse do campo de Ber”, a CNA afirmava estar “mantendo a situação sob controlo”. Obviamente, depois deste episódio, as relações entre o governo e os tuaregues continuaram a deteriorar-se. Tanto é que a CMA pediu aos seus representantes que abandonassem Bamako, motivando este pedido com a “falta de diálogo e de interlocutores sobre as questões subjacentes”.
Provavelmente o ataque sangrento da semana passada (uma violação brutal do “cessar-fogo” acordado em 2014) constitui a gota de água clássica que fez transbordar as costas de um camelo já violento. Acima de tudo pela esperada substituição definitiva da Minusma por tropas malianas (FAMA) e mercenários Wagner. Oficialmente numa chave anti-jihadista, mas – é o receio legítimo da CMA – também à custa dos acordos de Argel (que a junta agora no poder parece não querer ter em conta) e, portanto, contra os tuaregues.
O povo nómada tuaregue (os kel tamasheq, “aqueles que falam tamasheq”, bem mais de um milhão de pessoas), além de vastas áreas do Mali e do Níger, também habitam e viajam por algumas áreas da Argélia, Burkina Faso e Líbia.
Entretanto, a 13 de Agosto, as armadilhas do “Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos” assumiram a responsabilidade por mais dois ataques, novamente em Ber, contra a Minusma, quase como se quisessem acelerar a anunciada e em curso desmobilização.
Gianni Sartori
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